sexta-feira, 23 de agosto de 2019

Com você

Ela acordava e tropeçava
Nos seus próprios medos
Nos pensamentos inseguros
Nos desejos não correspondidos
E nas expectativas vencidas
Mas ela não imaginava que
Os seus próprios medos
Os pensamentos inseguros
Os desejos não correspondidos
E até as expectativas vencidas
Ajudá-la-iam a crescer
Quando encontrasse o amor
Que lhe ensinasse tudo sobre
Caminhar sem temer.

sábado, 24 de setembro de 2016

Como "Someone Saved My Life Tonight" realmente salvou a minha vida.

Cresci numa família onde minha mãe gostava de Robbie Williams e meu pai de Baden Powell. Por muito tempo baseei qualquer relacionamento amoroso que tive no casamento dos meus pais. Inclusive baseado na diferença de gosto musical. Sei lá, sinto que Freud explica. E através de indas e vindas de relacionamentos eu cada vez mais acreditava no dito popular que os opostos se atraem. Aquelas comédias românticas da garota nerd que se apaixona pelo popular da escola sempre aqueciam meu coração de alguma forma.

Até que, em meados de 2014, tivemos uma catarse musical aqui em casa provocada por uma onda de Elton John. Não sei explicar por quê. Todos ficamos viciados. Até mesmo meus pais, com toda bossa nova e os gritos de "Angels" que se reproduziram por muitos anos opostamente em nossa família. Meu irmão, como bom apreciador de música, me contava as histórias por detrás das letras profundas das canções de Sir Elton John. Algumas eu ficava impressionada. Outras, sentia pena. Mas minha maior surpresa foi nunca ter engolido direito a história de "Someone Saved My Life Tonight". 

Reginald (Sim, este é o nome verdadeiro do nosso pianista britânico favorito) estava prestes a se casar com uma mulher que não acreditava no seu potencial musical (!!!!!!), bem como carregava o noivo nas costas por ser oriunda de uma rica família. O entusiasmo inicial de um relacionamento comum culminou num preparativo imaturo de casamento. Elton John estava perdidamente confuso por entender que não amava Linda, sua noiva na década de 60, e, sem coragem de terminar o relacionamento, acabou tentando se matar com o gás do fogão de sua casa. Felizmente seu amigo, ao sentir o cheiro de gás, chega a tempo de detê-lo e ambos percebem que a tentativa de suicídio seria frustrada de qualquer maneira: Elton John teria se esquecido de fechar as janelas de sua casa. Moral da história? O cantor sobreviveu e escreveu um hit que marcou os anos 70. 

Durante algum tempo achei essa história pouco comovente e segui a vida. Até que, como por uma ironia do destino, me peguei na mesma situação. Não, eu não estava noiva. Nem ao menos pensava em suicídio. Mas estar num relacionamento sem futuro e sem coragem de terminar por achar que poderia, em algum momento, dar certo, começou a me deprimir lentamente. Com o tempo ele começou a me perguntar se havia algum coisa de errada e eu só pensava, "Eu sei lá o que está acontecendo com a minha cabeça?".

Foi então que algumas semanas de reflexão profunda (ou muitas poesias escritas em aulas em que eu deveria estar prestando atenção) fizeram com que eu percebesse que eu não precisava que aquele relacionamento desse certo. O medo de ficar sozinha estava falando muito mais alto. Ademais, os opostos não se atraem dessa maneira. Os casais podem ter gostos musicais diferentes, personalidades distintas e até mesmo um gostar de Friends e outro de How I Met Your Mother. Mas não é disso que estamos falando. Para que uma relação dê certo a minha experiência diz que o respeito, os ideais, o desejo de crescer e a vontade de estar em um relacionamento devem ser iguais. E se você está há certo tempo tentando dar certo e a coisa simplesmente não encaixa, meu amigo, você não precisa chegar ao seu limite. A partir daí comecei a entender por que existiam pessoas que viam futuro em uma relação em que visivelmente ambas as partes formam um desencaixe total. Culpa das comédias românticas. Ou talvez de pais com gostos musicais diferentes. Não sei, depois dessa história só me resta dizer: Obrigada, Elton John. 

sábado, 11 de junho de 2016

Encenação

Você acenava no trabalho desde o primeiro dia
"Amigos", ele dizia, "é o nosso bem maior"
E qual não foi a minha surpresa
Quando senti, com menos alegria
A falta do seu abraço, do seu calor?

Entrei no elevador, ela lá se encontrava
Pigarreei e pensei, "o que será que ela tem?"
Para estar arrumada?"
"Hoje tem festa, Carla? Tá tão animada..."
"Sai pra lá, Augusto, eu hein
Sabe, você precisa de uma namorada"

Se ele souber que gostei do elogio
Talvez se arrependa.
Não se prenda.
Me esqueça.
E antes o medo me impeça
Do que o sentimento faça com que ele desapareça

Ela tá distante.
"Será que arranjou alguém?"
"Tá louco? Ela não tem ninguém"
Talvez seja eu. Fui perdendo o interesse
Daquilo que um dia, não sei... Talvez eu não devesse?

Augusto tá tão mudado... Não senta do meu lado
Só anda acabado, parece até amargurado
Não me acena mais
"O jogo tá virado, você vai ser transferida"
"O que?"
"Você é capaz"

Encontrei Carla um dia desses.
Ela parece feliz, não sei porque pediu transferência
Talvez tenha tomado alguma providência
Com relação a mim
Nunca entendi porque ela não quis.

Ele tropeçou e me olhou, achei que sorriu.
Ela arrumava a bolsa quando me encontrou. Paralisou quando viu.

quinta-feira, 31 de dezembro de 2015

Nova rodada de 365 dias: Desmistificando o ano novo

Em uma tarde parada das minhas recentes férias, resolvi fuxicar os meus dizeres antigos ditos nas redes sociais. O barato do Facebook ou do Twitter é você conseguir achar exatamente algum momento da sua vida que foi espontaneamente registrado na internet. Ou nem tão espontâneo assim...


Bom, curiosamente a este fato, descobri que todo ano novo eu era chegada a comentar alguma crítica em relação aos desejos pessoais dos internautas. Sabem como é, é só chegar dia trinta e um de dezembro e as pessoas passam a desejar amor, fé e caridade para toda e qualquer criatura do mundo, mas ao entrar janeiro, continuam vacilantes em seus próprios vícios. Percebi que critiquei isso dois ano-novos consecutivos, e se eu não soubesse que os últimos anos foram um pouco difíceis para mim, arriscaria dizer que talvez eu estivesse sendo dura demais.



É como banalizar o eu te amo já banalizado. Todo mundo sabe que ninguém ama ninguém com uma semana de convivência, mas se a pessoa sente-se bem em afirmar que ama, o que importa? Assim é com o ano que está por vir. Votos sinceros e positivos em vésperas de ano-novo são muito bem-vindos se comparados com as lutas que somos obrigados a enfrentar na nossa vida todos os dias.



Finalmente compreendi que o desejo dos indivíduos que esperam que o próximo ano melhore magicamente pode ser um estímulo a uma reforma íntima. Talvez seja a única oportunidade do ser em desejar para si mesmo uma nova perspectiva de vida, mesmo sabendo que o que o espera são as próprias escolhas. No dia trinta e um, para algumas pessoas é mais importante desejar boas esperanças do que efetivamente buscá-las no novo ano. E cada um vive essa nova rodada de 365 dias da sua maneira.



E dessa vez eu direi apenas que desejo um feliz ano novo para todos! 

quarta-feira, 9 de setembro de 2015

Aos

Nós brigávamos. 

Muito. 

Entre nós também, mas sobretudo por nós. Nos amávamos principalmente e vivíamos como irmãos. Descobrimos que a vida é uma sobremesa amarga, mas quando juntos a saboreávamos doce. Lutamos unidos e quando sozinhos nos apoiávamos uns aos outros. Como escudos. Assim, fomos caminhando durante algum tempo. Sem perceber que este passava. Rápido e sem qualquer pretensão de parar. E quando chegou ao fim, suspiramos. Aliviados, talvez. Sem qualquer noção do que vinha. Alguns se portaram mais distantes. Outros, presentes. Fomos nos ajustando. E seguimos. Juntos. 

Brigando? 

Muito. 

Entre nós também, mas sobretudo por nós.

quarta-feira, 10 de dezembro de 2014

O tropeço (A fantástica crônica sobre o amor)

Estávamos no quarto período de Jornalismo quando brotou um show do Nando Reis para nós irmos. Na verdade, o Nando será eternamente o precursor da nossa história. Eu era apaixonada por você desde o momento em que você me disse que a sua música favorita era "Luz dos Olhos", em um dos primeiros dias de aula na faculdade. Coincidência ou não, o nosso primeiro encontro seria um show do cara. Não costumo acreditar em sorte, mas não poderia estar mais agradecida pela oportunidade ímpar.

Todo mundo sabia. Sim, todo mundo via os meus olhos brilhantes quando eu conversava com você ou o modo como eu me arrepiava a cada abraço ingênuo seu. É difícil acreditar que, a única pessoa desse mundo que não enxergava o quanto eu estava a fim, era você mesmo. Tudo bem, eu poderia ter te contado, mas gosto da harmonia que faz com que os planetas do Universo girem sem se esbarrar. Eu gosto do natural.

Contei para minha mãe sobre o pseudo-encontro e ela vibrou positivamente e logo contou para o meu pai. Ele disse para mim que estava na hora de voltar a namorar e já afirmou o quanto gostava de você. Tem noção? Meu pai te adorava. Como se não bastasse todas as minhas amigas me dizendo dia após dia o quanto você era perfeito para mim, você já tinha aprovação dos meus pais. Só faltava, enfim, nós dois juntos. E esse talvez fosse o problema.

Me arrumei 3 horas antes de sair de casa. Mexi no meu cabelo tantas vezes procurando um caimento perfeito que acabei deixando-o oleoso. Resolvi entrar no chuveiro novamente e caprichei melhor no banho, com direito a esfoliante, óleo e hidratante. Depois percebi que de tanta arrumação, ia acabar perdendo tempo, e decidi me aprontar de vez. Agora só faltava você aparecer para me buscar de carro. E como o tempo passa devagar quando se está ansiosa...

Você finalmente ligou e disse que queria subir para falar direito comigo. Gelei. Sério, o que isso pode significar para uma pessoa que está muito apaixonada? Tentei manter a calma, como eu havia mantendo durante os últimos dois anos, mas foi bastante difícil ao que me recordo. Abri a porta devagar e sorridente, e ao deixar você entrar, lembro-me de perguntar se não gostaria de beber alguma coisa... Você negou e puxou a cadeira. Foi então que soltou a bomba:

- Clarice, combinei o show com uma outra pessoa também. Sei que você estava animada para a gente curtir o som juntos, mas acho que preciso da sua aprovação.

Combinar com outra pessoa. Minha aprovação. Ao que essas palavras me sugeriam, entendi que você tinha marcado o show comigo E com uma outra pessoa E você estava interessado nessa outra pessoa. 

Não me recordo de muito dali em diante. Devo ter rido, agradecido pelo voto de confiança, devo ter tratado a menina bem. Devo ter feito um monte de coisas naquela noite em que eu tenho lutado tanto para esquecer. Mas lembro-me bem de algo. Depois do show, enquanto eu voltava para casa, o amor... Ah, o amor! Este tropeçou e ficou pelo caminho.

sexta-feira, 22 de março de 2013

Noção do ridículo

O que é ser ridículo?


Para as crianças ser ridículo é nunca ter tomado banho de chuva ou de mangueira. É nunca ter ralado os joelhos, levado um tombo e ter aberto o berreiro! É nunca ter brincado de boneca ou de carrinho. É não ter chupado picolé ou sacolé em dias de muito calor. Ser ridículo é não ter morrido de vergonha da mãe levando você até à sala de aula. Ou não ter tido medo da própria mãe, que você sentiu vergonha horas antes, esquecer de te buscar na hora da saída.



Para os adultos ser ridículo é esquecer quem você é. É ignorar todos os valores já construídos na infância, ou os sentimentos sentidos na adolescência. Ser ridículo é se focar em trabalho e mais trabalho, quando sabemos que a vida não é só isso! É não sair para se divertir. É não extravasar um pouco na comida aos fins de semana, só pra aliviar a culpa dos problemas que os cercam. Ser ridículo nos adultos é esquecer das (in)experiências joviais. O sabor do primeiro beijo, do primeiro amor, da primeira nota ruim, da primeira briga séria com os pais...



Para os velhinhos ser ridículo é concordar que eles estão velhos demais para experimentarem coisas novas! É não chamar os amigos de infância para tomar chá ou jogar baralho. É respeitar as ordens dos filhos sobre não fazer artimanhas... Afinal, uma artimanha ou outra nesta fase da vida vale a pena! Ser ridículo é o vovô não jogar bola com o neto, se baseando nas suas dores de articulação. É a vovó que não mima a neta, que não dá doces escondidos, que não aconselha sobre as durezas do dia a dia.



Para todos nós, independente da idade, ser ridículo é não saber que de vez em quando uma cafonice cabe. É não pagar mico. É não entender a simplicidade da vida em um sorriso, num sonho de uma alma, na esperança de uma criança... É não discutir um pouco com amigos e familiares, mostrando seu ponto de vista. É não ter senso crítico. Ser ridículo é ver aquele seu amigo querido com outra pessoa e não sentir uma pontinha de ciúme. Ser ridículo é não ter passado por um momento de tristeza, para valorizar o de alegria. É não ter se decepcionado, não ter se magoado, não ter amadurecido. É não ter tido momentos bons conquistados por momentos ruins.



Ser ridículo é não ter vivido.